Era dia de festa.
À maneira das brincadeiras silvestres das crianças subiram as escadas vermelho-acarpetadas galhofando ao
som da música que os esperava na sala da grande varanda. Ela cantarolava-a, estranhando como a conhecia. A memória reserva-nos estes espantos.
Ferromagnéticas, as mãos de ambos iam encontrando-se pelo espaço, os dedos pontilhando os braços ou surpreendendo os fios dos cabelos. No tom alaranjado da tentação, cada um fingia, ou promovia, um sem fim de sem-quereres ao toque, mas os mil corpos que dançam e os balões inquietos no ar incentivaram alguma bravura.
- “Está mesmo a
apetecer-te beijar-me, não está?".
Um instante bastou. Naquela noite, naquele único e fugaz momento, o mundo reuniu as cores certas.
Beijaram-se até azular o dia.
A Terra é Azul
A terra é azul como uma laranja
Jamais um erro as palavras não mentem
Elas não lhe dão mais para cantar
Na volta dos beijos para se entender
Os loucos e os amores
Ela sua boca de aliança
Todos os segredos todos os sorrisos
E que roupagens de indulgência
Para acreditá-la inteiramente nua
Jamais um erro as palavras não mentem
Elas não lhe dão mais para cantar
Na volta dos beijos para se entender
Os loucos e os amores
Ela sua boca de aliança
Todos os segredos todos os sorrisos
E que roupagens de indulgência
Para acreditá-la inteiramente nua
As vespas florescem verde
A aurora se enrola no pescoço
Um colar de janelas
Asas cobrem as folhas
Você tem todas as alegrias solares
Todo o sol sobre a terra
Sobre os caminhos da sua beleza
A aurora se enrola no pescoço
Um colar de janelas
Asas cobrem as folhas
Você tem todas as alegrias solares
Todo o sol sobre a terra
Sobre os caminhos da sua beleza
Paul Éluard
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